Os incas eram os “romanos do novo mundo”.
Por
mais de quinhentos anos, a versão histórica oficial baseada nos artigos
históricos do Peru, mostravam que um punhado de guerreiros espanhóis vindos da Cidade
do Panamá, com suas armas superiores e cavalos, haviam derrubado o maior
império das Américas.
Indo
além das crônicas escritas pelos espanhóis há quinhentos anos, as descobertas
arqueológicas recentes revelam uma
história de conquista jamais contada. É uma história de alianças secretas e
traições.
Quando
os espanhóis cruéis chegaram ao Peru em busca de ouro e riquezas, o império dos incas já estava
desmoronando. Os incas dominavam cerca de 10 milhões de nativos (1532), mas estes, estavam fartos do domínio inca, e resolveram se aliar aos espanhóis recém-chegados.
Para os recém-chegados europeus isso foi um golpe de sorte. Era o que os 180
aventureiros gananciosos necessitavam para conquistar os incas, apoderando-se
do império andino e suas riquezas. Os aliados índios foram seu braço direito,
no combate ao governo estabelecido dos incas.
O
primeiro confronto (de uma séria que ocorreram), se
deu de surpresa em Cajamarca (Pultamarca), contra Atahualpa*, um dos filhos do rei inca
recém-falecido. O exército inca foi massacrado e Atahualpa aprisionado.
Atahualpa era filho do
rei inca Huayna Capac (1464-1527) e da
princesa estrangeira de Quito, Tocto Pala. Seu pai Huayna, em seu
leito de morte, deixou-lhe como legado as terras da mãe, situadas ao norte de
Cuzco, e designou o meio irmão de Atahualpa (dentre outros filhos) de nome Huáscar** como imperador inca (sapa inca), fato que
gerou uma disputa sucessória pelo trono inca. Atahualpa, apoiado por um grande
exército e bons comandantes, havia vencido Huáscar numa guerra sangrenta que
durou vários anos, e que culminou com a execução de seu irmão***.
Depois voltou para a cidade de Cuzco,
capital do império, para tomar posse do trono que conquistara. No regresso,
Atahualpa que conduzia um exército de milhares de guerreiros, parou na cidade
andina de Cajamarca,
quando foi traído pelos seus súditos regionais e aprisionado pelo conquistador espanhol Francisco
Pizarro (1478-1541) no dia 16 de novembro de 1532.
Atahualpa foi executado pelos espanhóis em julho de 1533**** por
estrangulamento, após pagar um caro resgate em ouro e prata e se recusar a se
converter ao catolicismo.
Para as
etnias índias cayambe, carangue e pasto, isso foi a sua própria
vingança contra as grandes derrotas sofridas no passado, frente às hostes
incaicas.
Após
a vitória, os espanhóis liderados por Pizarro dirigiram-se para a capital inca
Cuzco, que conquistaram e se apoderaram.
É
sabido que os incas possuíam um enorme exército. Eles souberam da pequena invasão estrangeira dos
espanhóis, através dos mensageiros espalhados por todo o império. No entanto, demorou quatro
anos para os exércitos incas reagirem, agrupando-se, para então se defenderem e
se vingarem de seu imperador morto. Foi o começo da grande rebelião inca, tanto
em Cuzco quanto em Lima.
Em agosto de 1536, Pizarro encontrava-se em Lima, onde viu diante
de si o grande exército inca mobilizado para o ataque. Preparando-se para o cerco,
Pizarro disse: “Que Deus nos salve da fúria dos índios”.
Pizarro e seus homens, com sua superioridade tecnológica em armas
e cavalos, juntamente com seus milhares de aliados índios, foram para cima dos corajosos
incas, derrotando-os após sangrenta batalha.
O papel dos aliados índios dos espanhóis (muito minimizado pelas crônicas
espanholas que queriam exaltar os espanhóis em demasia) foi fundamental para o
exército espanhol da conquista. As alianças espanholas com os índios próximos a
Lima, proporcionaram a sobrevivência de Pizarro e seus homens. Sem o apoio que
tiveram, os espanhóis teriam
fracassado em sua empresa.
Para
conseguir o apoio dos índios aliados, os espanhóis lhes prometeram “independência”
e “poder de influência” que os incas lhes negavam. Pizarro, como bom político
e diplomata que era, soube aproveitar os sentimentos de independência que
prevaleciam entre os senhores étnicos, para conseguir sua colaboração. Os índios ignoravam o estado de prostração no qual se veriam
envolvidos mais adiante.
Para concretizar a aliança, uma princesa índia foi dada a
Pizarro como sua mulher (concubina
aos olhos dos católicos).
Obviamente,
que depois das conquistas, os espanhóis recusaram-se a atender os índios
aliados.
A grande história não contada da conquista
espanhola foi a história da aliança dos espanhóis com
os índios andinos que lutaram por eles.
Com a morte de Huáscar e Atahualpa,
e a liquidação de toda a elite dominante, o Estado inca (Tahuantinsuyo) desmoronou como um castelo de cartas, desagregando-se
inexoravelmente.
Era o início da colonização europeia em nome do
rei Carlos V de Espanha. Em 1575, o último rei inca (descendente de Atahualpa) foi morto pelos espanhóis, na famosa batalha de Vilcabamba.
O contato com os europeus, traria aos povos indígenas diversas fatalidades que eles desconheciam, como a sua própria dizimação
através das graves doenças europeias (não se sabe com segurança quando
começaram as primeiras epidemias), mas essa, é uma outra história...
Vito Marino
__________________
* Ataw Wallpa (Atahualpa), nascimento: 20 de março 1502; falecimento 26 de julho de 1533.
** O nome original de Huáscar
era Topa Cusi Huallpa. Sua mãe era uma outra esposa do rei Huayna Capac (e
irmã) chamada Mama Ragua.
*** Huáscar (1503-1532) foi
morto por ordem direta de Atahualpa.
**** Dias
depois de sua morte seu corpo desapareceu, supõe-se que levado para serras
próximas por seus fiéis.
PRINCIPAIS CIENTISTAS E ARQUEÓLOGOS
ENVOLVIDOS NAS DESCOBERTAS:
Guillermo Cock, Elena Goycochea,
Tim Palmbach, Albert Harper, John Guilmartin e Maria Rostworowski.
saiba mais:
A Grande Rebelião Inca (1-6):
e: